Vivemos em um mundo profundamente transformado pela tecnologia, onde as interações digitais moldam quase todos os aspectos da vida cotidiana. Entretanto, para muitos idosos entre 70 e 90 anos ou mais, essa revolução tecnológica representa não apenas uma oportunidade, mas também um desafio considerável. A dificuldade de adaptação a essa realidade conectada não é apenas uma questão técnica, mas reflete barreiras culturais, sociais e emocionais que precisam ser compreendidas e superadas.
Para muitos idosos dessa faixa etária, o mundo digital apresenta uma curva de aprendizado íngreme. Nascidos em um tempo em que a comunicação era analógica e as interações eram predominantemente presenciais, eles frequentemente encontram dificuldades em compreender as interfaces digitais, navegar na internet ou até mesmo manusear dispositivos como smartphones e tablets. Essa lacuna gera um sentimento de exclusão, especialmente em uma sociedade que se torna cada vez mais dependente das ferramentas digitais para atividades básicas, como acessar serviços bancários, marcar consultas médicas ou se comunicar com familiares.
Além das dificuldades técnicas, existe um fator emocional significativo. Muitos idosos podem sentir receio ou mesmo resistência ao mundo digital, temendo cometer erros ou expor suas informações pessoais. Esse medo é reforçado pela falta de suporte adequado, seja por parte das famílias, seja pela ausência de políticas públicas que promovam a inclusão digital de maneira efetiva. A exclusão digital não é apenas uma barreira prática, mas um obstáculo para o bem-estar emocional e social, pois a tecnologia é, muitas vezes, uma ponte para combater a solidão e fortalecer vínculos familiares e comunitários.
No entanto, é importante reconhecer que muitos idosos têm demonstrado resiliência ao se aventurarem no universo digital. Alguns se conectam com netos por meio de videochamadas, outros aprendem a usar redes sociais para manter contato com amigos distantes ou participam de cursos e programas para alfabetização digital. Essas experiências mostram que, com o suporte adequado, a inclusão digital dos idosos não só é possível, mas também pode ser transformadora, promovendo autonomia, autoestima e uma maior conexão com o mundo.
O mundo conectado deve ser visto como um direito universal, e incluir os idosos nesse contexto é uma responsabilidade coletiva. Governos, empresas e famílias precisam trabalhar juntos para criar ambientes acessíveis, oferecer suporte técnico e, acima de tudo, promover uma cultura de paciência e empatia. Afinal, os idosos de hoje são guardiões de memórias e sabedorias de outras eras, e sua inclusão no mundo digital enriquece a sociedade como um todo, enquanto lhes devolve um senso de pertencimento e dignidade em um mundo em constante mudança.
Suzana Schwerz Funghetto
Educadora Especial, Doutora em Ciências e Tecnologias da Saúde