Em um mundo globalizado e hiperconectado, o senso de dever cidadão parece ter perdido força, desafiado por mudanças culturais e comportamentais que marcam a contemporaneidade.
O envelhecimento populacional, fruto da transição demográfica, destaca um contraste entre gerações: enquanto os mais velhos tradicionalmente assumem papéis de liderança em atividades comunitárias, a juventude muitas vezes se distancia dessas responsabilidades criando um mundo digital próprio, focando em um estilo de vida mais individualista. Essa mudança reflete a ausência de laços intergeracionais robustos e a priorização de atividades digitais, que enfraquecem o comprometimento com o bem comum.
A cultura da procrastinação, fomentada pelas redes sociais e plataformas digitais, agrava ainda mais essa desconexão. A juventude é frequentemente atraída por estímulos imediatos que as plataformas oferecem, como redes sociais, jogos e streaming, relegando tarefas essenciais e ações cívicas a segundo plano. Essa dinâmica não é simplesmente um reflexo de desinteresse, mas de um sistema que incentiva o consumo individual e imediato em detrimento da construção coletiva. Assim, a vida digital, apesar de suas vantagens, tem criado barreiras invisíveis ao engajamento em questões comunitárias e globais.
Além disso, a globalização trouxe consigo a fragmentação dos espaços públicos e um sentimento de impotência diante dos grandes desafios da atualidade, como mudanças climáticas e desigualdades sociais. Os jovens, frequentemente bombardeados por informações, se sentem distantes da possibilidade de realizar ações que impactem de maneira significativa. Esse descolamento entre o indivíduo e sua comunidade contribui para a erosão do senso de dever cidadão, reduzindo o engajamento e aprofundando a alienação social.
Reconstruir o senso de dever cidadão exige uma reavaliação profunda das estratégias de engajamento. Iniciativas que promovam a educação cívica digital, o fortalecimento das instituições locais e a criação de espaços intergeracionais são essenciais. Além disso, ferramentas como a gamificação podem transformar o engajamento cívico em algo mais atrativo e tangível para a geração digital. Ao conectar as novas tecnologias com o impacto direto na vida cotidiana, é possível resgatar a importância de atuar em prol da coletividade.
O senso de dever cidadão, essencial para a coesão social e a democracia, enfrenta desafios inéditos no século XXI. No entanto, a solução não reside em uma simples nostalgia pelo passado, mas em um esforço ativo para adaptar valores cívicos às novas dinâmicas globais e digitais. Só assim será possível reestabelecer a conexão entre o indivíduo e sua comunidade, revitalizando o espírito cívico e promovendo uma sociedade mais justa e solidária.
Suzana Schwerz Funghetto
Educadora Especial, Doutora em Ciências e Tecnologias da Saúde