Ingressar na faculdade após os 60 anos é, ao mesmo tempo, um desafio e uma jornada de reinvenção pessoal, com um saber sênior acumulado. Em uma fase da vida tradicionalmente associada à aposentadoria e à redução de responsabilidades, optar pelo ensino superior representa uma oportunidade de realização de sonhos adiados, aquisição de novos conhecimentos e construção de uma nova perspectiva sobre o envelhecimento ativo. Essa tendência ganha ainda mais relevância quando inserida no contexto da transição demográfica no Brasil e no mundo.
A transição demográfica, caracterizada pela redução das taxas de natalidade e pelo aumento da expectativa de vida, está transformando a estrutura populacional global. No Brasil, a expectativa de vida ao nascer passou de 62,5 anos em 1980 para mais de 76 anos em 2020, e a projeção é de que, nas próximas décadas, o número de idosos ultrapasse o de crianças e jovens. Esse fenômeno cria demandas sociais, econômicas e educacionais, ao mesmo tempo em que evidencia o papel dos idosos como protagonistas em um mundo que ainda se adapta a essa nova realidade. Fazer faculdade após os 60 anos insere-se nesse contexto, promovendo o conceito de envelhecimento ativo, no qual os idosos continuam participando da sociedade de forma produtiva e significativa.
O primeiro grande desafio para estudantes dessa faixa etária é o enfrentamento das próprias limitações e inseguranças. Muitos questionam se conseguirão acompanhar o ritmo das aulas ou lidar com métodos de ensino que, frequentemente, são voltados para estudantes mais jovens. Além disso, a familiarização com tecnologias, indispensáveis no ensino superior, pode ser um obstáculo, já que muitos idosos não cresceram em um ambiente digital. No entanto, a disposição para aprender e a curiosidade intelectual, combinadas com a experiência de vida, frequentemente tornam esses estudantes exemplos de resiliência e dedicação.
Outro ponto relevante é o impacto social e cultural de ter idosos em um ambiente predominantemente jovem. A presença de pessoas com mais de 60 anos nas salas de aula enriquece o ambiente acadêmico, trazendo perspectivas baseadas em vivências únicas que complementam o aprendizado teórico. Essa convivência intergeracional ajuda a desconstruir preconceitos sobre o envelhecimento, desafiando estereótipos e mostrando que o aprendizado não tem prazo de validade. Além disso, em um mundo marcado pela transição demográfica, iniciativas que promovem a integração entre gerações são fundamentais para fortalecer os laços sociais e valorizar a diversidade de idades.
Conciliar os estudos com responsabilidades pessoais e familiares também é um desafio para muitos desses estudantes. Muitos ainda estão envolvidos com suas famílias, seja como cuidadores de parentes mais velhos ou como avós. Entretanto, o retorno à academia pode trazer equilíbrio e um novo sentido para a vida, mostrando que o aprendizado ao longo da vida é enriquecedor tanto para o indivíduo quanto para a sociedade. A educação superior torna-se, assim, uma ferramenta poderosa para a inclusão social, a autonomia e a valorização do idoso.
Ao considerar o aumento da expectativa de vida e a transição demográfica, fica claro que as instituições de ensino e a sociedade como um todo precisam se adaptar a essa nova realidade. Oferecer um currículo que valorize o saber sênior, com metodologias ativas de aprendizagem, suporte adequado em todas as áreas, infraestrutura e programas específicos para estudantes mais velhos não é apenas uma questão de inclusão, mas de reconhecer o potencial transformador dessa faixa etária. Os idosos que escolhem fazer faculdade rompem paradigmas, mostrando que a educação é uma experiência universal e atemporal. Provam que, em qualquer fase da vida, é possível abrir novas portas, explorar novos caminhos e continuar escrevendo uma história de crescimento e aprendizado.
Suzana Schwerz Funghetto
Educadora Especial, Doutora em Ciências e Tecnologias da Saúde